Compliance e digital: as duas grandes apostas do setor financeiro em Portugal

A Eurogroup Consulting analisa os últimos 18 meses de atividade das empresas do setor financeiro e relata o ponto de situação atual, marcado por investimentos mas também pela otimização e redução de custos, cenário que se enquadra numa Europa cheia de desafios.

 

A Eurogroup Consulting analisou os últimos 18 meses do setor financeiro e revela que as instituições portuguesas desta indústria têm estado a investir fortemente em duas áreas principais: compliance regulamentar e transformação digital. Em paralelo, é também possível concluir que as empresas nacionais no setor financeiro continuam a aplicar os seus programas de racionalização de custos, concretizados em encerramento de agências e redução de colaboradores.

De acordo com dados gerais obtidos no terceiro trimestre de 2019, verifica-se um crescimento no lucro e na capitalização de mercado – sendo a única exceção a do Novo Banco, que resulta da falência do Banco Espírito Santo, levando a enormes níveis de imparidade, que ainda estão a ser registados nos balanços patrimoniais.

 

Ainda relativamente ao mesmo período, é de referir que o setor está agora mais resistente e preparado para lidar com possíveis choques adversos. O progresso relatado tem sido significativo em eficiência, liquidez, qualidade dos ativos e solvência. Eis algumas outras conclusões:

  • O crédito total a clientes diminuiu, a ritmo residual. Atualmente, regista-se um grande decréscimo do crédito malparado – de um máximo em junho de 2016, este caíu em cerca de 26 mil milhões de euros, correspondendo a uma diminuição de 9 pp nesse período para 8,9%;
  • O aumento de depósitos tem sido a principal fonte de financiamento dos bancos, apesar das baixas taxas de juro. A lucratividade foi positiva, com o déficit de financiamento a diminuir progressivamente equivalente a 71 pp face ao mínimo registado em junho de 2010, e o índice de cobertura de liquidez é consideravelmente superior aos 100% exigidos;
  • A solvência também registou melhorias, refletindo o reforço dos fundos próprios das instituições, a evolução favorável dos ativos ponderados pelo risco e a melhoria da rentabilidade.

 

Ao nível específico do crédito disponibilizado pelos bancos, e embora a política de concessão permaneça inalterada desde o início do ano, dados de outubro permitem constatar que:

  • A oferta de crédito para empresas e pessoas singulares permaneceu praticamente sem alterações, apesar das pressões vindas da concorrência terem ajudado os spreads a restringir menos os empréstimos de risco médio para empresas;
  • No que concerne à procura, a situação é muito semelhante, com exceção dos empréstimos à habitação, que aumentaram ligeiramente devido às taxas de juro favoráveis;
  • Bancos e empresas de crédito ao consumidor preveem um aumento constante de empréstimos pessoais, principalmente para a aquisição de automóveis e eletrodomésticos.

 

Acerca deste estudo elaborado pelo Eurogroup Consulting Portugal, José Manuel Azevedo, Senior Advisor na empresa, refere: “As instituições nacionais que atuam no setor financeiro continuam muito focadas no cumprimento das obrigações regulamentares da UE e do BCE, e também no investimento em digitalização – nomeadamente naquilo que é a relação com os seus clientes. Por outro lado, verificam-se esforços de redução de pessoal e encerramento de agências e balcões. Em matéria de apoio à economia, os bancos continuam a financiar mais particulares do que empresas, ainda que a situação esteja um pouco melhor. A rentabilidade também tem aumentado porque, por um lado, os bancos têm vindo a repor o balanço no que concerne às questões do crédito malparado e, por outro, pela aplicação de comissões em serviços onde estas não existiam.

Este retrato traçado em Portugal tem como contexto maior um cenário europeu onde os bancos de negócios e investimento (CIB) enfrentam um dos seus períodos mais resilientes desde a crise financeira. No entanto, é igualmente certo que enfrentam bancos norte-americanos cada vez mais presentes no Velho Continente, lidam com ambientes económicos e políticos desafiantes, gerem a deterioração dos seus valores bolsistas e cumprem os regulamentos impostos pelas entidades competentes. A sobrevivência em condições como estas parece quase impossível, pelo que se recomendam mudanças nos seus modelos de negócios para ajudar a aliviar estas pressões.

Nos últimos 10 anos, o conjunto de receitas das instituições de CIB na região da EMEA diminuiu 28%, enquanto no mesmo período caíu apenas 8% na região das Américas e cresceu 10% no eixo Ásia-Pacífico. Prevê-se que em 2021 as receitas na EMEA diminuam 4%, enquanto América e Ásia-Pacífico deverão registar subidas de 4% e 11%, respetivamente. Embora este declínio na região da EMEA seja devido a muitos fatores desde 2009, ele foi recentemente impulsionado pelas taxas de juro negativas prolongadas na zona euro, pela saturação do mercado pelos credores locais e pela aplicação de regulamentações mais rígidas sobre o capital.

Para a Eurogroup Consulting, as instituições de CIB na Europa devem ser proativas e abordar a redução de custos pela via das mudanças estruturais a fim de diminuírem substancialmente os custos e aumentarem o retorno sobre o património. O foco em soluções de curto prazo, como a redução de custos variáveis, já não é a resposta uma vez que as medidas exaustivas já levaram o custo variável ao seu ponto mais baixo. Esta é a altura para abordar os custos fixos que verdadeiramente impactam as várias linhas de negócio.