fusões e aquisições (M&A) num mundo pós-pandémico

Como vão ser as fusões e aquisições num mundo pós-pandémico

Compreender os impactos a curto e a longo prazo é fundamental para o sucesso da execução de fusões e aquisições (M&A).

 

A incerteza causada pela pandemia COVID-19 reduziu a atividade no sector de M&A em cerca de 50% durante o primeiro semestre de 2020, o que representou quebras em valores de transação na ordem do “trilião” de dólares, de acordo com a Bloomberg Law. O volume e o número de transações atingiu o seu ponto mais baixo desde 2004.

No segundo semestre de 2020, e à medida que o mundo empresarial começou a instalar-se numa nova normalidade, as empresas de private equity e as equipas de desenvolvimento de empresas começaram a investir ativamente os seus mais de 1,5 triliões de dólares em dinheiro inativo, refere a CNBC. De acordo com o “Global M&A Report 2021”, da Bain & Company, registaram-se mais de 28 500 negócios em 2020, com alguns sectores e geografias a regressarem aos níveis pré-pandémicos, revela a Bloomberg Law.

 

Este regresso à normalidade empresarial deu-se durante uma época em que a maior parte da força de trabalho estava a funcionar no modo “nowhere-everywhere future of work”, como descreveu Derek Thompson, da The Atlantic. Com o crescimento constante da adoção de ferramentas de colaboração digital, as operações de M&A no mundo pós-pandémico vão continuar a envolver uma significativa componente de trabalho remoto com atividades estratégicas presenciais. Dado que a realização de valor em M&A e a integração cultural têm sido sempre um desafio, como devem as empresas navegar com sucesso na execução de M&A neste novo ambiente de trabalho?

 

Os impactos da pandemia apresentam desafios reais para avaliar a verdadeira oportunidade de cada transação. Nas operações de M&A, o número de incógnitas é sempre elevado, e o ambiente atual levou esta incerteza para outro nível. Ao observarmos a estabilidade financeira das empresas, a análise da Qualidade dos Resultados (Quality of Earnings) vai naturalmente revelar anomalias em períodos financeiros mais recentes. No ambiente atual, as suas estimativas de desempenho financeiro terão novos riscos e pressupostos com os quais o comprador terá de se sentir confortável de forma a poder avançar com o negócio. Para o fazer, será necessário rever informações chave a um nível granular (mais do que no passado), como especial atenção:

 

  • Na avaliação dos clientes da empresa alvo, a nível individual, de forma a avaliar o verdadeiro impacto da pandemia global.
  • Na definição do conjunto de questões destinadas a estabelecer uma previsão precisa dos objetivos de receitas de 2021 em adiante e de potenciais sinergias.
  • No restabelecimento de expectativas, assumindo um certo nível de desconforto com os resultados da sua análise financeira.
  • Na mitigação destes riscos através de termos de negócio ou do estabelecimento de objetivos de aquisição com modelos de negócio que compreenda, pois saberá inerentemente quais as perguntas a fazer para chegar ao cerne do valor da oportunidade e dos principais riscos.

 

Coletivamente, estas ações devem revelar ainda mais os pontos fortes da empresa e tocar em questões fundamentais como, por exemplo:

 

  • O negócio principal da empresa alvo resistiu a este grave impacto?
  • A equipa de gestão estava equipada para gerir e conduzir eficazmente a empresa através da pandemia, ou a situação piorou?
  • Os colaboradores da empresa estavam equipados para se adaptarem às novas condições e serem bem-sucedidos?

 

Como resultado da pandemia, assistimos a impactos severos em algumas indústrias. No entanto, em geral, a pandemia não tornou más as empresas bem geridas, e vice-versa.

 

A execução de operações de M&A ao longo do ciclo de vida do negócio regista uma mudança duradoura em direção ao mundo virtual. A redução de grandes reuniões de lançamento, de workshops que duram uma semana e de visitas frequentes ao local não significa que a sua estratégia de M&A esteja obsoleta. Na verdade, as estratégias e metodologias que desenvolveu anteriormente continuam a ser um ponto-chave neste novo ambiente de trabalho. Contudo, cada etapa do processo de M&A deve ser ligeiramente alterada no que diz respeito a “como” realizar e completar cada passo. Por exemplo, antes da pandemia, teríamos alinhado calendários, organizado viagens e levado todos a um local central fazer o kick-off. Este tipo de encontros pode levar semanas a coordenar e ocorre tipicamente no início de cada fase de negócio, de forma a alinhar funções-chave, fluxos de trabalho, objetivos e atividades. Com todas as partes remotas, temos a vantagem de agendar rapidamente sessões virtuais, nas quais também estamos cara-a-cara, através de câmaras. Limitamos a duração de forma a minimizar a fadiga do Zoom e acompanhamos o kick-off com uma série de workshops virtuais bem planeados e executados, que tiram partido das mais recentes ferramentas digitais. Bem gerido, o tempo de conclusão e a qualidade do compromisso permanece o mesmo, ou até pode melhorar à medida que se afasta de grandes eventos, de longa duração, para sessões de trabalho virtuais, bem planeadas e executadas.

 

É importante validar e gerir proactivamente os tempos de espera de forma a evitar atrasos inesperados. Os comités executivos e os gabinetes de gestão da integração (IMOs) continuam a ser fundamentais para a estrutura operacional e de governação que sustenta o ciclo fusões e aquisições. Os principais objetivos destas estruturas são de assegurar que os objetivos específicos do negócio sejam alinhados com a estratégia, conduzir as decisões executivas e abordar novos riscos. Atualmente, é necessário planear com mais antecedência e proporcionar aos líderes tempo suficiente para reverem os materiais de forma assíncrona, de forma a permanecerem uma equipa eficaz e eficiente. A mesma abordagem aplica-se à terciarização de partes do negócio (outsourcing), que têm potencial para apresentar limitações de recursos à medida que o volume de negócios aumenta.

 

Sugerimos que se guarde tempo para avaliar a situação ao contactar a sua rede de fornecedores (corretores, consultores, seguradoras, etc.) e informe-se dos prazos para recorrer aos seus serviços, de forma a estar sempre um passo à frente das suas necessidades. Por fim, o comprador deverá ser proactivo com os organismos reguladores para navegar nos seus tempos de processamento e manter cada fase do ciclo de negócio no bom caminho.

 

A avaliação e o alinhamento da cultura ficaram ainda mais desafiantes. As pessoas são o centro de qualquer negócio. Alinhar culturas e estabelecer confiança entre equipas tem sido sempre um desafio e a nova realidade virtual das operações de M&A tornou esta tarefa ainda mais difícil. O esforço de integração deve incluir um bom plano de gestão de mudança, mas que ao mesmo tempo seja ágil de forma a garantir a retenção de talentos-chave, a manutenção da capacidade operacional e a convicção dos membros da equipa de que, no meio da incerteza, este é um lugar mais forte onde querem ficar. Tradicionalmente, as conversas para se conhecerem e avaliarem culturas ocorrem fora das apresentações e das reuniões, nomeadamente ao longo de almoços e jantares mais informais. A necessidade de estar em momentos sociais continua a ser essencial, e é agora possível através de uma mistura de conversas individuais e sessões de descoberta que são enquadradas como educacionais. Fazer o esforço extra de ligação a um nível pessoal, mesmo que seja virtualmente, é importante para reduzir os níveis de stress da equipa, e para fundir culturas empresariais e aumentar a probabilidade global de sucesso.

 

Tem sido um tempo desafiante para a execução de operações de M&A. Contudo, a mudança para um processo mais virtual pode ser positiva, desde que continuemos a centrar os nossos esforços na estratégia original da operação de M&A. Depois da pandemia, esperamos continuar a executar uma abordagem híbrida, incorporando tudo o que aprendemos até então. Olhando para os últimos meses ou anos, sentimos que o clima empresarial e as novas formas de trabalho são sinais encorajadores sobre o futuro das M&A para o resto de 2022, e mais além.

 

Artigo adaptado do original, elaborado pela Pointb empresa afiliada da rede Nexcontinent.